domingo, 22 de julho de 2018

A Classificação Biológica

Introdução
 No mundo vivo encontramos uma enorme variedade de organismos. Os biólogos já identificaram e nomearam cientificamente quase dois milhões de espécies de seres vivos, e provavelmente ainda existam muitas espécies desconhecidas.
 Para melhor estudar e compreender toda esta variedade se faz necessário agrupar os organismos de acordo com suas características comuns, isto é, classifica-los.
 O ramo da Biologia que se ocupa da classificação e da nomenclatura dos seres vivos é a Taxonomia.
 O que é classificar?
 Classificar é agrupar coisas ou objetos de acordo com suas semelhanças e diferenças, o que vem a ser um comportamento pertinente à natureza e racionalidade humana.
 Podemos, por exemplo, classificar pessoas agrupando-as de acordo com diversos critérios: o país de origem, idade, profissão, classe econômica ou time de futebol pelo qual se tem afinidade. Quando vamos às compras em um Supermercado, os produtos estão classificados e distribuídos de acordo com o tipo: latarias, massas, higiene, vestuário, utilidades, etc. De tal forma que facilita tremendamente a nossa escolha.
 Nos seus primórdios, o homem provavelmente, classificava os seres vivos em função de suas observações práticas e necessidades diárias, sendo assim, classificava os animais como venenosos (mortais) e não venenosos; agressivos e não agressivos; com carne saborosa ou ruim. Faziam o mesmo com plantas, fungos, etc.
 No século IV a.C., o filósofo grego Aristóteles classificou os animais em aéreos, terrestres e aquáticos, usando como critério o ambiente em que eles viviam. Seu discípulo Teofrasto classificou as plantas em ervas, arbustos e árvores, segundo o critério tamanho.
 A partir do século XIV, os cientistas se depararam com a necessidade de sistemas de classificação, que separassem os seres vivos de acordo com suas características biológicas e não apenas segundo critérios arbitrários ou de utilidade. Entre estes cientistas, se destacou o naturalista sueco Carl Von Linnée ou Lineu, que por volta de 1735, publicou no livro Systema Naturae, um sistema de classificação que serviu de base para o que utilizamos atualmente, além de criar em 1760 um sistema de nomenclatura universal, que com modificações e atualizações e utilizado com eficiência até os dias de hoje.
 O principal critério de classificação utilizado por Lineu, foi a organização corporal, ou seja, os grupos foram formados, observando-se semelhanças e diferenças em sua anatomia e estrutura corporal.
 No sistema atual de classificação, além das semelhanças estruturais, que hoje são analisadas até níveis microscópicos, leva-se em conta também a composição química, principalmente, as proteínas e genes, que constituem os seres vivos.
 Espécie é a categoria taxonômica básica. Atualmente podemos definir espécie (species = tipo) como o conjunto de seres semelhantes, capazes de cruzar entre si e gerar descendentes férteis. Indivíduos de espécies diferentes, normalmente, não se cruzam, por falta de condições anatômicas ou desinteresse sexual. Em alguns casos pode até ocorrer o cruzamento, geralmente forçado pelo homem, mas sem gerar descendentes, ou então, estes quando formados, são estéreis e denominados híbridos. É o caso do cruzamento entre o cavalo (Equus caballus) e uma jumenta (Equus asinus), cujos descendentes, a mula (fêmea) ou o burro (macho), são sempre estéreis. Dentro de uma mesma espécie podem existir variedades diferentes, que denominamos raças. Todas as raças, por exemplo, de cães podem potencialmente reproduzir entre si e portanto, todas pertencem à mesma espécie, Canis familiaris. Quando uma raça natural (não “criada” pelo homem através de cruzamentos selecionados) recebe uma denominação científica é chamada de subespécie.
 As espécies afins são agrupadas em Gêneros, da mesma forma que gêneros se juntam de acordo com suas semelhanças formando as Famílias. Diversas famílias podem ser agrupadas em uma única Ordem e um grupo de ordens por sua vez, pode formar uma Classe. Várias classes se juntam para formar os Filos (nos vegetais pode-se usar Divisão no lugar de filo). E finalmente, a reunião de vários filos leva à formação do maior Taxon, um Reino.
Classificação do cão doméstico nos diversos Táxons.
 Pode-se usar, quando necessário, unidades intermediárias.
 A Classificação Atual:
 Durante muito tempo, os cientistas adotaram as idéias de Aristóteles e agruparam os seres vivos em dois grandes reinos: animal e vegetal. Com os avanços da Biologia, principalmente na microscopia, dois reinos passaram a ser insuficientes para classificar todas as formas de vida, descobertas em nosso planeta.
 Em 1899, o biólogo alemão Ernest Haeckel, sugeriu a criação de dois novos reinos, que denominou, Protista e Monera, onde seriam incluídos os seres vivos mais simples, descobertos com a utilização do microscópio.
 Em 1969, o biólogo R. H. Whittaker, propôs que os fungos, até então, classificados como vegetais, fossem classificados em um filo a parte, denominado Fungi.
 Atualmente segue-se a tendência de utilização de cinco reinos:
  • Reino Monera: o reino Monera agrupa os seres vivos mais simples, que são unicelulares e procariontes. As bactérias e as cianobactérias, estas últimas também chamadas de algas azuis ou cianofíceas, compõe este grupo. 
  • Reino Protista: no reino Protista estão classificados os protozoários, que são organismos unicelulares, eucariontes e heterótrofos. Também estão nesse grupo, as algas unicelulares, que são eucariontes e autótrofos. As algas pluricelulares, também são classificadas nesse reino, porque não apresentam tecidos diferenciados, ou seja, não existe muita diferenciação, entre as células que formam o seu corpo. 
  • Reino Fungi: no reino Fungi incluímos seres eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, que se assemelham às algas na organização e na reprodução, mas que diferem delas por serem heterótrofos.  Para alguns autores os fungos são classificados entre os protistas. A tendência moderna, porém, e classifica-los em um reino separado.
  • Reino Vegetal ou Metafita (Metaphyta): neste reino estão as plantas, que são organismos eucariontes, pluricelulares e obrigatoriamente autótrofos, realizadores de fotossíntese. Além disso, as plantas tem vários tipos celulares, que se organizam, formando diferentes tecidos. 
  • Reino Animal ou Metazoa: neste reino estão os animais, que são organismos eucariontes, pluricelulares e heterótrofos. Assim como as plantas tem vários tipos celulares, que se organizam, formando diferentes tecidos e órgãos.
  • Vírus, uma exceção: os vírus não são classificados, de acordo com os critérios estabelecidos, em nenhum dos cinco reinos. Não apresentam células, sendo constituídos por moléculas de ácidos nucleicos, que podem ser DNA ou RNA, envoltas por uma cápsula proteica. Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, que atacam células de animais, de plantas, de fungos ou de bactérias. Quando estão fora de uma célula hospedeira, os vírus são completamente inertes e não se reproduzem. No interior de uma célula, porém, um vírus pode originar centenas de novos vírus idênticos. Por conveniência, há quem classifique os vírus no reino Monera, junto com os seres vivos mais simples, porém, a maioria dos autores consideram os vírus como um grupo sem reino.
Alguns representantes dos Reinos utilizados na classificação.
A Nomenclatura Binomial
 O naturalista Lineu teve a brilhante ideia de associar uma nomenclatura ao seu sistema de classificação, estabelecendo uma série de regras. Vamos destacar as principais:
  • O nome científico deve ser binomial, ou seja, deve ser composto por duas palavras, sendo que, a primeira refere-se ao gênero e a primeira mais a segunda, juntas, determinam a espécie. No sistema binomial a primeira palavra (referente ao gênero) deve ser um substantivo e a segunda palavra, também chamada de epíteto da espécie, deve ser um adjetivo. 
  • O nome científico deve ser destacado em relação ao texto onde estiver escrito. Para tanto, em obras impressas utiliza-se o itálico (tipo de letra fino e inclinado) e/ou o negrito (letra mais forte). Em textos manuscritos podemos grifar o nome. 
  • O primeiro nome deve ser escrito com inicial maiúscula e o segundo com inicial minúscula.

 Por exceção, permite-se usar inicial maiúscula para o segundo nome quando se tratar de homenagem a uma pessoa do país onde a obra é publicada. Por exemplo:
Trypanosoma Cruzi, no Brasil, homenagem a Oswaldo Cruz.

  • Todo nome científico deve ser escrito em latim ou então latinizado (palavra de uma língua qualquer transliterada para o latim). O latim foi escolhido, por tratar-se de uma língua morta, ou seja, não mais falada por povo algum, e portanto livre do risco de sofrer alterações gramaticais ou de pronúncia. 
  • Ao aparecer pela primeira vez em um texto, o nome científico deve ser escrito por extenso; nas demais vezes que aparecer, o gênero pode ser abreviado. Por exemplo, após termos nos referido a Taenia solium uma primeira vez, podemos passar a escrevê-lo T. solium em novas citações. 
  • Quando se faz necessário indicar no texto um subgênero, este deve aparecer entre parênteses e entre o nome do gênero e o epíteto específico. Por exemplo: 
  1. Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi; 
  2. Anopheles (Kertesia) bellator.
  • O nome de uma subespécie deve ser trinominal, acompanhando o nome específico. Por exemplo: 
  1. Cobra coral verdadeira: Micrurus frontalis; 
  2. Subespécie do Mato Grosso: Micrurus frontalis frontalis; 
  3. Subespécie de Santa Catarina: Micrurus frontalis multicinctus.
  • Quando se deseja citar o nome do autor que classificou a espécie em questão, escreve-se o nome da espécie, acrescenta-se vírgula e logo a seguir o nome do autor, ou sua inicial. Por exemplo: Passer domesticus, Lineu ou Passer domesticas, L.
  • O nome de uma família é dado a partir de um dos gêneros que ela engloba, acrescentando o sufixo idae.

Classificação e parentesco evolutivo 
 Lineu não era um evolucionista. Para ele, o número de espécies era fixo, tendo sido definido por Deus no momento da Criação. Embora conhecesse os fósseis, que são restos preservados de seres que viveram no passado, Lineu, como os cientistas de sua época, os considerava simplesmente evidências de espécies criadas no início dos tempos e que haviam se extinguido. Por isso, seu sistema de classificação não procurava estabelecer relações de parentesco entre os fósseis e os seres vivos.
 Desde a época de Lineu, muitos conhecimentos foram incorporados à classificação. Atualmente, a maioria dos cientistas acredita que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum. Isso quer dizer que todos os organismos, inclusive o homem, são aparentados em maior ou menor grau e se originaram de organismos unicelulares muito simples, que viveram há mais de 3 bilhões de anos. Durante esse período ocorreram inúmeras diversificações, que levaram à enorme variedade de seres atuais. O processo pelo qual as espécies de seres vivos se modificam e se diversificam no decorrer do tempo é denominado evolução biológica.
 Árvores filogenéticas: 
 Foi Ernest Haeckel, quem elaborou a primeira árvore filogenética de que se tem notícia, criando o termo “fílogênese” (do grego phylon = grupo, e genesis = origem) que serve para designar as relações de origem e parentesco entre os seres atuais e seus ancestrais.
 É fácil entender que espécies mais parecidas tiveram um ancestral comum a menos tempo do que espécies com maior grau de diferença. Por exemplo, o cão e o lobo possuem um ancestral comum que representa uma bifurcação recente na árvore filogenética. Por sua vez, cães e lobos compartilham com cavalos, ratos, homem e outros mamíferos um ancestral comum, que viveu há muito mais tempo. Mamíferos, aves, répteis e todos os demais vertebrados possuem um ancestral comum ainda mais antigo.
 A classificação moderna das espécies deve refletir suas relações de parentesco evolutivo. Isto quer dizer que espécies de um mesmo gênero são mais aparentadas entre si do que com espécies de outros gêneros. Da mesma forma, organismos pertencentes a uma mesma ordem são mais aparentados entre si do que com organismos de outras ordens, e assim por diante.
Filo Cordados e as Classes dos Peixes.

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